Brad Koteshwar
Artigo

“The Perfect Speculator”, de Brad Koteshwar

O primeiro livro da lista de sugestões feitas na semana passada: The Perfect Speculator, de Brad Koteshwar

Depois de um começo de ano muito difícil para as bolsas de valores mundiais, já é possível observar uma boa recuperação. A queda de mais de 20% no ano no S&P 500 transformou-se em uma desvalorização (16/08) de pouco mais de 10%. Com isto, surge uma bela oportunidade para abordarmos o primeiro livro da lista de sugestões feitas na semana passada: The Perfect Speculator – How to Win Big In Up Markets… And Lose Nothing in Down Markets, de Brad Koteshwar. Neste livro, Koteshwar traz lições que, na minha visão, são uma maneira muito interessante de abordar um possível novo mercado de alta com uma boa gestão de risco.

Como uma primeira observação, embora a palavra especulador, presente no título do livro, seja vista por muitos com um viés negativo, isto não condiz com a realidade. Koteshwar diz que a especulação é uma observação cuidadosa da tendência do mercado, uma interpretação clara dos eventos observados e ação tomada com uma aplicação rígida de técnicas de gestão de risco utilizando a probabilidade a seu favor. Um especulador interpreta o que está acontecendo, mas não prevê o que acontecerá. Como isto é feito, ficará mais claro ao longo dos próximos parágrafos.

Logo no primeiro capítulo, o autor já traz um excelente ponto dizendo que quase todos já fizeram dinheiro no mercado em algum momento e, por isso, continuamos voltando. No entanto, poucos conseguiram manter seus ganhos. O mercado, geralmente, acaba tomando de volta tudo e, às vezes, mais um pouco. E aí surge a necessidade de entender que nem todo rali é um novo mercado de alta e nem toda realização é o início de um mercado de baixa.

Com isto, ele afirma que um especulador deve primeiro observar os índices e as ações individuais para ver se uma tendência confirmada existe. Até que uma tendência confirmada possa ser observada, ele não fará nenhuma operação. Sendo uma tendência um movimento claro em uma direção, como uma série de topos e fundos ascendentes no caso de uma tendência de alta.

Após observar a existência de uma tendência de alta, o próximo passo é escolher o momento do seu primeiro trade e manejar a operação de modo que a perda, caso sua observação inicial esteja errada, seja pequena. Desta maneira, o especulador pode confirmar se ele está sincronizado com o mercado. Um segundo trade deve ser realizado apenas depois de o primeiro confirmar que a sua interpretação inicial estava correta.

O objetivo é não se equivocar, pois o erro mais comum e caro é pular em cada mínimo sinal de um possível rali. Afinal, são os pacientes que esperarão de fora os muitos sinais falsos e estarão aptos a agirem quando o movimento verdadeiro iniciar. Enquanto não existir sinais que confirmem a tendência ou haja dúvida sobre a tendência, a recomendação é não fazer nada. O próximo trader a ser abordado, William O’Neil, acrescenta aqui a necessidade de um follow-through day que serve como um critério a mais para confirmar uma tendência.

Falsos Sinais

O mercado é um gênio em oferecer falsos sinais, ainda mais se levarmos em consideração o complexo cenário macro atual, com uma forte inflação e significativas altas de juros (que tende a ser negativo para as ações). Olhe, por exemplo, o quanto os dias 08 e 11/08/22 no S&P 500 podem ter confundido muitos – dois dias que subiam mais de 1% e que reverteram para o negativo em regiões de resistência. E o que aconteceu após isso? Um movimento de mais de 3% de alta, fechando a semana do dia 12/08/22 em máxima.

Ciente disso, o que um especulador deve monitorar para comprar? Koteshwar diz que devemos prestar atenção nas ações fazendo máximas, principalmente novas máximas históricas. Essas ações fazendo novas máximas históricas num novo mercado de alta são as novas líderes do mercado, tipicamente empresas novas e de crescimento, que muitos nunca ouviram falar. E serão destas empresas, com grande potencial de crescimento de lucros, que surgirão os grandes movimentos no mercado.

Cabe aqui um par de parênteses de que este ponto é muito repetido por outros autores da lista de livros sugeridos. William O’Neil e Mark Minervini enfatizam bastante que os líderes nos novos mercados de alta raramente são os mesmos líderes do mercado passado. Portanto, avaliar a presença de novos possíveis líderes é uma boa maneira de confirmar um novo bull market.

Koteshwar resume, então, que o especulador deve procurar por potenciais novos líderes que passaram alguns meses ou anos num movimento lateral de formação de uma base, e quanto maior este tempo, maiores as chances de uma grande alta quando este movimento iniciar. (Um exemplo disto é Tesla, que passou de 2014 ao final de 2019 numa grande consolidação e multiplicou por 16 vez após romper a máxima desta consolidação). Após identificar estas ações, o especulador deve atentar-se para quantas destas ações apresentaram movimentos 20/4 (20% de alta em 4 semanas ou menos do rompimento da máxima da consolidação).  Ao ver pelo menos duas ações 20/4, um especulador deve considerar voltar ao mercado.

Outros sinais de confirmação:

  • Volume – ver claramente um aumento de preço com um aumento de volume e correções/consolidações com volume na média ou menor é um bom sinal. Rompimentos de consolidações para novas máximas devem ter volume alto muito incomum, limitando as operações apenas para os casos em que as probabilidades estejam mais fortes a seu favor.
  • Movimento de grupo – um setor líder tipicamente tem uma ou duas ações que realmente lideram o grupo, enquanto as demais acompanham o movimento numa intensidade menor. Tenha muito receio de um setor em que não há este movimento em grupo.

No presente momento, o setor de energia solar parece ser um dos novos líderes no mercado americano, caso a alta se confirme. Várias empresas deste setor já sobem mais de 100% das mínimas do ano, acompanhado de muito volume de negociação e apresentam enorme crescimento de receitas e lucros.

Vendo todos estes sinais de confirmação, o especulador deve começar a montar compras em possíveis novos líderes com pequeno percentual do seu capital – se você não conseguir ganhar com uma pequena fração do capital, não há por que querer utilizar uma grande fração do capital. Apenas se estas compras testes começarem a gerar dinheiro, um especulador poderá considerar incrementar sua exposição no mercado, sempre buscando o mesmo tipo de ação – novos líderes.

Como uma garantia de proteção, todo especulador deve ter um stop-loss configurado para cada operação. O stop-loss ser atingido é o mercado mandando a clara mensagem de que a visão inicial do trader estava errada. Isto também servirá para evitar que este erro custe caro. Koteshwar diz que:

Não utilizar um stop-loss é algo que apostadores de jogos de azar fazem, não um especulador.

Outro sinal de alerta levantado pelo autor é ver muitas ações 20/4 retornando a preços abaixo do rompimento inicial. Se as melhores ações não estão subindo, o mercado dificilmente oferecerá boas probabilidades de ganhos.

Como resumo do próprio autor, o princípio básico da especulação bem-sucedida é nunca vender uma ação que está subindo e nunca comprar uma ação que não está subindo. Um especulador deve conseguir surfar o movimento de alta de uma ação por tanto tempo quanto for possível e, ao mesmo tempo, vender a ação antes que ela reverta e comece a se mover para baixo (topos e fundos ou médias móveis são bons instrumentos para o especulador manejar entradas e saídas em uma operação).

No próximo texto, trarei alguns pontos levantados por William O’Neil que complementarão muito bem a linha de pensamento de Koteshwar – follow-through day mencionado anteriormente, a exigência de alguma novidade na empresa e de crescimento, além da avaliação da formação de bases na movimentação do preço da ação.

Para finalizar, deixo aqui alguns trechos que gosto bastante do livro:

Uma boa ação é aquela que te faz dinheiro. Independente de quão boa uma empresa é gerida ou quão bons seus produtos são, se você não consegue ganhar dinheiro na ação, a ação é inútil. Similarmente, independente de quão mal gerida é uma empresa ou quão ruins ou não rentáveis são seus produtos, se a ação te faz ganhar dinheiro, então, é uma boa ação. Se uma ação não consegue te fazer dinheiro, então é uma ação nojenta.”

Não procure ganhar dinheiro em mercados ruins. É melhor ficar de fora em mercados ruins, quando as probabilidades estão contra nós do que tentar nadar contra a maré.

Preste atenção no mercado e nas ações líderes. Estes raramente lhe enganarão. Nunca preste atenção aos humanos, já que humanos estão quase sempre errados. O mercado é o único que nunca está errado.”

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