o fed atrás da curva
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O Fed atrás da curva (deliberadamente)

O processo de normalização das políticas monetárias é uma sombra na atuação dos Bancos […]

O processo de normalização das políticas monetárias é uma sombra na atuação dos Bancos Centrais ao redor do mundo. De modo geral, nunca houve dúvidas sobre se venceríamos a batalha contra o coronavírus. O desafio foi – e é – como ajustar as condições financeiras, taxas de juros e programas de compras, após esse período de combate sanitário sem causar uma hecatombe no mercado financeiro. Com o recrudescimento do processo inflacionário, seja devido a injeção colossal de liquidez ou devido as condições de oferta e cadeias produtivas, as autoridades monetárias ficaram em uma saia justa. Principalmente aquelas que postergaram a retirada dos estímulos.

Países Emergentes à frente

As economias emergentes saíram na frente e estão praticamente próximas do nível adequado de suas taxas soberanas. Brasil, Peru, México, Rússia, África do Sul, são alguns exemplos. Talvez pelo maior convívio com taxas mais altas e condições financeiras mais restritas. Por isso, países como esses, buscaram adiantar o processo. Talvez em um segundo momento, pequenas retificações possam ser feitas, mas, de modo geral, a caminhada para condições normais foi executada.

Os Bancos Centrais dos países desenvolvidos, por outro lado, iniciaram a retirada dos estímulos de maneira mais tímida. Banco Central Europeu dá indícios de que deve começar o processo de subida de juros nos próximos meses. O Banco Central do Japão continua tendo suas taxas de juros negativas – sem perspectivas de alteração. O Banco Central da Inglaterra já está realizando o Ciclo de aumento de juros, iniciado no final do ano passado. Ainda assim, pode se acelerar com o dado de inflação divulgado hoje (18/05), que fez o indicador chegar a 9% na variação anual, maior patamar dos últimos 40 anos. Last but not least, a situação do FED também é desafiadora.

Em sua entrevista no dia de ontem (18/05) o presidente do Banco Central Americano, Jerome Powell, disse que não hesitará em levar a política monetária para além do território neutro, a fim de controlar a inflação. Essa que já se encontra no maior patamar dos últimos 40 anos.

“Restoring price stability is an unconditional need. It is something we have to do.”, “there could be some pain involved”.

Afirmou Powell. Agora, a questão que resta é: com qual intensidade será feito esse ajuste?

O mercado vem precificando um movimento cada vez mais rápido.

Saímos de uma precificação de 0,25% para 0,50% a cada reunião, aproximadamente nos dois últimos meses. Questionado sobre o porque de não aumentar a taxa de juros de forma mais rápida, como por exemplo em 1%, Powell foi categórico. Por fim, explicou que o mercado opera através de expectativas, tendo já incorporando as taxas de juros mais altas nos ativos.

Regra de Taylor

Segundo a regra de Taylor, a taxa básica americana já deveria estar no patamar de 10,2% a.a. É muito importante salientar que esse NÃO é um indicador determinístico. portanto não deve ser levado em consideração seu valor absoluto e sim a divergência em relação a taxa corrente na economia.

É possível perceber a diferença notável da precificação da regra de Taylor (Vermelho), com a taxa de juros efetiva (Azul). Também é possível notar como já existiam indícios de que as taxas de juros poderiam ter sido elevadas mais cedo, como o próprio Powell relatou na entrevista, olhando em retrospectiva, poderia ter sido mais benéfico iniciar o ciclo de aperto monetário mais cedo.

Mesmo recorrendo a história, não temos uma situação parecida em termos de acontecimentos como a atual: saída recente de uma pandemia, estímulos gigantescos tanto no campo monetário quando no fiscal, guerra entre duas nações produtoras de comodities, lockdown de umas das maiores economias do mundo (chinesa). Seguimos vigilantes.

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