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Buy the dip | O quão fundo pode ser

Com a recente queda dos índices acionários ao redor do mundo, a expressão “buy […]

Com a recente queda dos índices acionários ao redor do mundo, a expressão “buy the dip” está sendo amplamente utilizada para justificar que a atual queda. Nada mais é do que uma ótima oportunidade de compra. Afinal, quem não é otimista nunca ganha dinheiro, certo?

Bom, os dados não mentem. Nos últimos 14 anos, a bolsa só tem uma direção, de alta. Apesar do susto de 2020, em pouco mais de dez meses, foi alcançado o patamar pré-covid. Movimentos assim talvez criem a aparência de que a bolsa é só para cima mesmo. Se caiu, a única e mais sensata opção é comprar mais.

Tal comportamento leva a considerarmos em que momento a maior parte dos investidores desiste da mentalidade supracitada e vende suas ações. Na verdade, tal pesquisa me instiga a buscar a resposta na história: em que momento os investidores das crises do passado efetivamente entenderam que, talvez, o problema era bastante sério?

Bolha PontoCom

Na bolha dos anos 2000, será que deixou de ser uma oportunidade depois de 40% de queda? 60%? Ou talvez os investidores mais resilientes só desistiram – e se desistiram – realmente quando o índice Nasdaq caiu seus 80%. Quando finalmente, após aproximadamente dois anos e meio de quedas sequenciais, o mercado começa a se recuperar.

Naquele momento, existiam situações curiosas. Havia muitas empresas com valuations superlativos, mesmo sem apresentarem resultados tangíveis. “Novas” métricas de precificação de ativos, como por exemplo, quantidade de acessos aos sites das empresas. Precificação da tal “disrupção” em qualquer atividade relevante da empresa, antecipando uma gestão estelar e a futura colheita de resultados robustos dentro de qualquer cenário. Esses entre outros aspectos.

Há pouco tempo, alguns discursos iam na mesma linha, justificando valuations absurdos “pois a base de clientes do banco está crescendo muito”. Para qualquer analista, seja a corrente ou avaliação executada, é bastante intrigante justificar empresas negociadas na bolsa, mal faturando para cobrir seus custos, terem preços tão altos. Aparentemente, não se entendia nada sobre a “nova economia”. Talvez as quedas de mais de 50% nos preços passem certa sensatez. Por isso, cuidado ao repetir o ditado de “caiu comprou”; pode não funcionar de tempos em tempos.

Também é válido lembrar que após o fundo de 2002 do índice Nasdaq, o mesmo patamar de preços só foi retomado em 2016. Longos 14 anos para que o investimento voltasse aos patamares de 2000. Ainda supondo que você tenha comprado o índice cheio e não escolhido empresas individualmente, já que muitas delas quebraram durante a crise.

A reflexão deixada é: quanta dor você consegue aguentar?

Caso nem mesmo passe pela sua cabeça que quedas muito mais relevantes podem acontecer, talvez não seja uma boa ideia manter um percentual significativo em alocações de risco, pois, normalmente, a desistência acontece nos piores momentos possíveis.

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